ESPLANAR

JOÃO PEDRO GEORGE
esplanar@hotmail.com

terça-feira, agosto 31, 2004

 

Storia d'amore

Tu non sai
cosa ho fatto quel giorno
quando io la incontrai
in spiaggia ho fatto il pagliaccio
per mettermi in mostra agli occhi di lei
che scherzava con tutti i ragazzi
all'infuori di me.
Perché, perché, perché, perché,
io le piacevo.
Lei mi amava, mi odiava,
mi amava, mi odiava,
era contro di me,
se non ero stato il suo ragazzo
era colpa di lei.
e per farmi ingelosire
quella notte lungo il mare
è venuta con te.
Ora tu vieni a chiedere a me
tua moglie dov'è.
Dovevi immaginarti
che un giorno o l'altro
sarebbe andata via da te.
L'hai sposata sapendo che lei,
sapendo che lei
moriva per me
coi tuoi soldi
hai comprato il suo corpo
non certo il suo cuor.
Lei mi amava, mi odiava,
mi amava, mi odiava,
era contro di me,
se non ero stato il suo ragazzo
era colpa di lei.
e per farmi ingelosire
quella notte lungo il mare
è venuta con te.
Un giorno io vidi lei
entrar nella mia stanza
mi guardava,
silenziosa,
aspettava un sì da me.
Dal letto io mi alzai
e tutta la guardai
sembrava un angelo.
Mi stringeva sul suo corpo,
mi donava la sua bocca,
mi diceva sono tua
ma di pietra io restai.
Io la amavo, la odiavo,
la amavo, la odiavo,
ero contro di lei,
se non ero stato il suo ragazzo
era colpa di lei.
E uno schiaffo all'improvviso
le mollai sul suo bel viso
rimandandola da te.
A letto ritornai
piangendo la sognai
sembrava un angelo.
Mi stringeva sul suo corpo
mi donava la sua bocca
mi diceva sono tua
e nel sogno la baciai.

[Adriano Celentano, «Storia d'amore», 1969]
Rui

domingo, agosto 29, 2004

 

Por mim, acabava já hoje

Classificação geral
Lugar Equipa V E D Golos Pontos
1 º Belenenses 1 0 0 3 - 0 3
2 º Sporting 1 0 0 3 - 2 3
3 º F.C. Porto 0 0 0 0 - 0 0
4 º Boavista 0 0 0 0 - 0 0
5 º Penafiel 0 0 0 0 - 0 0
6 º Benfica 0 0 0 0 - 0 0
7 º Estoril 0 0 0 0 - 0 0
8 º Rio Ave 0 0 0 0 - 0 0
9 º U. Leiria 0 0 0 0 - 0 0
10 º Sp. Braga 0 0 0 0 - 0 0
11 º Moreirense 0 0 0 0 - 0 0
12 º V. Guimarães 0 0 0 0 - 0 0
13 º Nacional 0 0 0 0 - 0 0
14 º Beira Mar 0 0 0 0 - 0 0
15 º V. Setúbal 0 0 0 0 - 0 0
16 º Académica 0 0 0 0 - 0 0
17 º Gil Vicente 0 0 1 2 - 3 0
18 º Marítimo 0 0 1 0 - 3 0

 

O princípio dos adeus*

Como convém a todos os últimos dias, está aquele tempo intermitente, fechado, triste. Porque, assim, é mais fácil partir. A pena, a perda, a saudade, tudo quanto os nossos sentidos retenham, pode ser perdido tranquilamente. Quem se mataria num dia glorioso?
As malas estão feitas. Os livros lidos colocados na estante. O bilhete de avião em cima de secretária, seguro pela chave da casa de lá e por um par de óculos suficientemente escuros para que, amanhã, sinta que me consigo esconder atrás deles.
E ninguém dará por mim.
Assim manda o princípio dos adeus. Que saiamos pela penumbra, num instante qualquer de um dia banal, escondendo emoções.
Nenhuma promessa.
O mundo anda demasiado rápido para que corramos os riscos implicados em olhar para trás durante a sua curva.
Alexandre

* Bem sei que se deveria dizer "dos adeuses", mas, para além de soar horrivelmente (pior, pior, só mesmo as "gravidezes"), dou-me ao luxo de, no meu monoteísmo, conservar a palavra como invariável em género e número. Porque "adeus" significa o que parece: a-Deus. Os hindus, se quiserem, que variem o termo.

sábado, agosto 28, 2004

 

cara inês,

The More Loving One

Looking up at the stars, I know quite well
That, for all they care, I can go to hell,
But on earth indifference is the least
We have to dread from man or beast.

How should we like it were stars to burn
With a passion for us we could not return?
If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me.

Admirer as I think I am
Of stars that do not give a damn,
I cannot, now I see them, say
I missed one terribly all day.

Were all the stars to disappear or die,
I should learn to look at an empty sky
And feel its total dark sublime,
Though this might take me a little time.

[W. H. Auden, Setembro de 1957, em Selected Poems, Vintage, 1989, p. 237].

Auden nasceu em 21 de Fevereiro de 1907; tinha cinquenta anos, portanto.
Obrigado e obrigado pelos votos. Rui

 

As alianças

A Cassini-Huygens continua a enviar fotos e mais fotos dos anéis, luas e do próprio Saturno (na verdade, não sei se contiua ou não, mas vamos assumir que sim, senão, a piada não resulta...). A cada vez que vejo novas, tremo de medo: e se, dentro dos anéis, me aparece esta inscrição: “Pedro e Paulo, 2004.07.17”???
Alexandre

 

Piadas inúteis

Ainda não descobri o que significam os “ov” que culminam todos os nomes de todos os indivíduos naturais do leste europeu, mas estou, por enquanto, maravilhado por saber que os “son” dos nórdicos significam aquilo que a lógica nos diria: "filho" – nem mais. Andersson é o filho de Anders, Tomasson o filho de Tomas, Magnusson o filho de Magnus.
Por isso, não resisto a inventariar nomes para uma série de suecos possíveis: os amigos Fatherandson, Couldyouhelpmehereson e Lukeyouaremyson são vizinhos de Whereismyson, que vem a ser primo de Haveyouseenmyson, aquela sem-vergonha que casou com Wherethefuckismyson. Quem não a pode ver é Thatmyson, desde que Listenson lhe contou toda a verdade sobre aquelas férias em casa de Iamnotyourrealfatherson. Sempre quero ver é o que vai acontecer quando chegar Thatsonofbitchisnotmyson.
Alexandre

 

Tem juízo, rapaz

Antes de regressar por mais uns três ou quatro dias para o casulo do Morelinho, não posso deixar de agradecer àqueles que, de diversas maneiras (em posts, em comentários ou por email), celebraram por estas bandas o nascimento do Rodrigo. Alexandre, Pedro, Clara, Catarina, Pedro, Leonor, Ezequiel, Luís, Francisco, Alexandre, Ana, Jorge Meneses, Pula Pula Pulga, André, Rui, Zé Mário: Thanks! O rapaz está a conviver bem com os ares de Sintra e preocupa-me apenas a vontade que manifestou em fundar uma coisa chamada blog. Disse-lhe, de pronto, que não sabia do que se tratava. Mas, nessa altura, o rapaz já avançava com os nomes para essa coisa: “O Dorminhoco Lírico”, “A Hora do Leite” ou “Choro, Logo Existo (Mas Não Sou Sampaísta)”. Nuno

 

Alfama, bairro do amor

Abandono o retiro familiar em Sintra para vir a Alfama, ao jantar do “casamento do ano” – de um ano privado e essencial. Ao Zé Mário e à Margarida, que cumpriram o desejo de casar, mais um abraço de felicidade. E não escrevo mais: estou ansioso para ir ler “(A)fixação Amorosa – 95 posts de amor e outros minimalismos líricos”, que conta a história que conduziu a esse transcendente desejo. Um livrinho publicado pelas (delicioso nome) edições caseiras. Nuno

sexta-feira, agosto 27, 2004

 

DDR esplanar


[Kazimir Malevitch, Auto-Retrato, guache sobre papel, 1910-1911]

Rui

 

Se a Amiga Olga fosse uma enciclopédia on-line seria a Wikipedia

Esta imagem ilustra a entrada «desenrascanço» na Wikipedia. Não sabia o que era a Wikipedia, mas agora sei: é a combinação do velhinho orientalismo com o velhinho pós-modernismo.
Exemplo? «Siemens, a well known German company, has development and engineering offices in Portugal partly due to this Portuguese characteristic, employing hundreds of Portuguese staff. They say "when a German gives up when encountering a difficulty, a Portuguese will work until it is solved." They also argue that is "due to the quality of Portuguese state-run universities and institutes". Desenrascanço is the finding of a solution for a given problem.»
Rui

 

Oposição directa

Caso nada de novo saia da discussão para a liderança do PS, seria de aproveitar a deixa de António Vitorino, aquando da sua recusa em abandonar Bruxelas antes do tempo: entrega-se a oposição à Sociedade Civil e não se fala mais nisso.
Desde que Morais Sarmento não processasse ninguém por plágio, era de ir em frente. Afinal, a coisa deu tanto resultado com aquele canal a seguir à RTP1, onde está sempre a aparecer a Anabela Mota Ribeiro, que não sei como falharia à escala do País. Poupava-se um dinheirão em ordenados e ajudas de custo aos deputados e, assim, donas de casa, velhotes do jardim, arrumadores, pensionistas, taxistas, barbeiros ou outros tantos queixosos habituais poderiam ir à Assembleia ou fazer campanha eleitoral sempre que entendessem ter alguma coisa a dizer.
Só não sei se o Governo estaria preparado para rebater o seu poder argumentativo.
Alexandre

quinta-feira, agosto 26, 2004

 

A vida depois dos trinta

Sempre encontrei conforto na frase, já me esqueci de quem ma disse, «que um homem com uma barriguinha até tem charme e piada». Quem quer jogar xadrez nos abdominais de um trintão? Tinha lógica. Concluí depois que o período de validade da frase está entre os vinte e oito e os trinta, precisamente. E porquê? Porque depois dos trinta o delicado equilíbrio entre essa «endearing little tummy» e o oblongo «ter barriga» fica irremediavelmente prejudicado. E quanto mais desporto se tiver feito antes, pior. O desporto não dá saúde a ninguém, em especial depois dos trinta.
Há qualquer coisa com os trinta anos. As pessoas tendem a agir como se fosse a última oportunidade para mudar de vida. Por exemplo, tenho um amigo que diz que os trinta são o limite, ou o limiar, para escolher o que se quer fazer na vida. Aos trinta como aos quinze. Só que, ao contrário do 9º ano em que tínhamos que escolher a área de estudos e escolhíamos ir para onde os amigos iam, aos trinta escolhe-se, enfim, «livremente». Para alguns, como se da primeira vez se tratasse. Aos trinta descobrimos que temos encontro marcado com um futuro, outro e novo, e que já estamos atrasados. Somos, por isso, novos, muito novos aos trinta.
Mas também já somos velhos. O corpo, especialmente. Os trinta são o início do descalabro. Não é nada como na série «Thirtysomething». Essa série não apresenta uma versão realista da questão. Numa versão realista os actores começariam por não se lembrar de deixas e de linhas de diálogo e a malta ria-se logo muito menos. A memória começa a ir-se, aparentemente, no momento de abertura das prendas no dia do trigésimo aniversário. Bom, há depois aqueloutro assunto. Nem vou por aí. O que eu sei é que os trintões deixam de fumar em massa e não é por causa do cancro.
Aos trinta descobre-se que a versão realista da realidade é muitas vezes a versão cínica da realidade, ao contrário dos vinte e cinco em que achava que a versão realista era a versão irónica da realidade. Eu quando fiz trinta anos tinha antecipado uma festa enorme. Para estar à altura de tão épica ocasião, nada menos parecia servir que alugar um cacilheiro para uma festa. Na verdade, fiquei em casa meio acabrunhado; encurralado.
Vamos aos «factos sociais». Já não há ressaca que não dure dois dias. Antes dos trinta, quando se bebia demais dormia-se sempre muito. Agora, dorme-se menos. Antes, nunca me tinha apercebido que a ressaca induzisse estados depressivos. Agora, já percebi que sim. No outro dia deram-me a explicação técnica que envolve as palavras «cérebro», «endorfinas», «seretonina» e a frase «com a idade» seguida de vírgula. E isso é outra coisa: tornamo-nos familiares de todas essas entidades químicas que regulam os humores, o peso e afins. Não são só a maternidade e a paternidade que tornam as pessoas fluentes em farmacologia: é também uma certa idade. Antes não confundíamos William James com William Jameson. Agora pedimos o segundo ao balcão, em acessos de auto-ironia quem ninguém percebe nem acha piada.
Olhando em redor na esplanada, verifico que anda tudo no psicólogo, no psiquiatra, no astrólogo ou no sociólogo a tomar, sozinho ou em combinações, zoloft, xanax, dimicina, prozac ou imodium. Os sociólogos, por deformação profissional e escrúpulo, não fazem nada disto, ou fazem menos. Resistem pela mesma razão que o Matt Damon resiste ao Robin Williams no filme «Good Will Hunting». Resistem, também, da mesma forma que o José Mário Branco resiste. Os sociólogos, ao contrário dos jovens agricultores quarentões, já estão velhos aos trinta e são de esquerda.
Sabe-se mais da vida? Sem dúvida: sabe-se que o Nelson Rodrigues escreveu que «um homem devia nascer com trinta anos feitos». E que, até mais ver, tinha razão. Rui

 

Gimme Hope


Rui

 

DDR esplanar

Somatos

Rui

 

Agora, um post intelectual

Dá-lhes, Obikwelu!! Vaiii!!!
Alexandre

 

O musical de Von Trap

Quase aposto que, no final da época, Giovanni Trapattoni lançará um disco.
A malta já está cansada de livros, blocos de notas de Boloni ou biografias de Mourinho. Os registos do micro-gravador para onde o italiano tem sido visto a falar durante os jogos é que serão a nova sensação. Instruções, experiências técnico-tácticas, gritos de alegria e dor, memórias e assobios – está lá tudo. Imagino um álbum chamado, em português perfeito, “O produto das vendas reverte para a compra de um central”, composto por faixas como “Que penteado é esse, ó Simão?”, “A baliza é aquela coisa branca com redes. Não, Argel! Não é essa!”, “Tomar o comprimido antes de jantar” ou “Amoreirinha, fazes-me lembrar tanto o meu neto Luigi”. A fechar, poderíamos ser brindados com uma pequena pérola: Trap cantando o clássico “Non o l’Etá”.
Depois, só quero os meus direitos de autor.
Alexandre

quarta-feira, agosto 25, 2004

 

ASL

A menos que a "Julinha" seja um alter-ego da própria, percebi que a blogosfera perderá Ana Sá Lopes.
Sem lamechices e por concordar com essa corrupção da escrita pelo amor e vice-versa, deixo-lhe um adeus simples, "até à vistas" à parte.
Alexandre

 

Realidade

Naquele dia, duas, três horas depois de ela ter ido embora, da rua ouvi a melodia familiar do genérico do noticiário dentro de casa. De tão comum, deveria passar despercebido, mas, desta vez, sobressaltava-me, sem que ainda percebesse porquê. Quando veio o silêncio e o pivot se preparava para começar, eu já aquietado, pronto a escutar a novidade bombástica do dia, compreendi que, na verdade, esperava notícias dela, comentários a nós. Onde estava agora, se tudo vinha correndo como planeado na viagem. Que entrassem analistas e directores de jornais para dissecar a situação. Que me explicassem o que deveria sentir, como me comportar, que palavras e acções eram recomendadas para dizer e fazer a partir daquele momento. Que pensavam a esquerda e a direita. Que expectativas teriam os meus apoiantes e os meus detractores. Que, no final do debate e da reportagem sobre os lugares por onde passámos, onde as coisas começaram e acabaram, resultasse uma de duas conclusões: "Este rapaz deveria ir em frente." "Este rapaz deveria ficar onde está."
Nada disso aconteceu. O assunto da actualidade ainda era a especulação sobre o que acontecera no aeroporto das Lajes ou a corrida à liderança do PS ou o balanço provisório dos Jogos Olímpicos.
Naquele dia, nesse dia, percebi por que deixara, praticamente, de ver serviços informativos, anos antes: porque "o mundo" que alegam trazer-me, "o mundo" que mostram e discutem não passa de uma imensa ficção. O mundo, o real, o verdadeiro, sem aspas, o que eu conheço e me importa, é aquele que tocou a minha pele, que me fez corar ou deixou hematomas, que me abraçou ou fez sentir frio.
No fim de contas, o mundo que não foi entreaberto pelo nosso corpo não é muito mais que um romance em volumes ou uma muito longa-metragem. Pelo menos, até prova em contrário.
Alexandre

 

Relatos sci-fi

O regresso dos jogos de futebol a sério faz-me suspirar pela hora em que torne a ouvir os comentários de Paulo Catarro.
Durante os jogos do Euro, ao ouvi-lo gritar até à histeria os golos de Portugal, cheguei a estar certo de que Steven Spielberg o convidaria para uma sequela de “A. I. – Inteligência Artificial”. Se notasse a maneira de… hã… ser… de Catarro, garanto que o realizador veria ali demonstrada, finalmente, a sua tese de que os robôs também têm sentimentos.
Nessa nova aventura, em vez de um miúdo à procura da mãe, o protagonista (Catarro) seria um adulto à procura do humor.
Verdadeira ficção científica.
Alexandre

 

Errata

No último post meti os pés pelas mãos. Recebi esta noite do Luís Borges a seguinte mensagem: «a songwriter do Coyote Ugly, também na imagem do teu post, chama-se Piper Perabo. A Julia Stiles não entra no filme e não é filha da Goldie Hawn e do sr. Russell. Penso que te querias referir à Kate Hudson».
Obrigado Luís. Não há muito a dizer: errei de cima a baixo. É como diz o Luís.
A rapariga da imagem do post é Piper Perabo e não Julia Stiles. Julia Stiles, que não entra no filme, não é filha de Goldie Hawn e Kurt Russel (confesso que não sei de quem é filha). Kate Hudson sim. Kate Hudson também não entra no filme. Resta a conversa que tive na esplanada da praia, resta a Julia Stiles no hotmail, resta eu achar que tinha razão e que via todas estas coincidências e resta também, vejo-o bem, o cérebro todo queimadinho. Não era verdade, mas eu estava convencido que sim. Como dizia alguém: «a realidade não é assim? pior para a realidade!» Ora bem. Resta a serindipity - agora, se possível, ainda mais. Quer dizer, para mentes mais psicanalísticas, resta como tema do post o engano em si mesmo. Rui

PS Obrigado à Carla e à Sofia pelas bem-dispostas chamadas de atenção.

terça-feira, agosto 24, 2004

 

Serendipity

Na vida, fui aprendendo a valorizar as coincidências muito para além do que é racional. Tenho a certeza que já vos aconteceu: de repente, há qualquer coisa que nos aparece por todo o lado, seja uma referência, uma pessoa, um disco ou um cheiro. Um vislumbre de outro destino, irrecusável: ali. A última destas que me aconteceu foi com a Julia Stiles. Acho que tive sorte, podia ser bem pior. Como é bem sabido, quando se está de férias o cérebro quase que pára. Estávamos na esplanada da praia a almoçar e já não sei porquê veio a Julia Stiles à conversa. Com a cabecinha em panne completa, estive uma boa meia-hora para me lembrar de quem é a mãe – Goldie Hawn – e outra meia-hora para me lembrar do pai – Kurt Russel. Em férias, mesmo aquilo que está debaixo da língua está irremediavelmente longe. Ah! já me lembro por que é que veio à conversa. Porque na véspera tinha comprado o dvd de um filme em que ela entra, e que se chama «Coyote Ugly», e que tem umas miúdas giras a dançar em cima do balcão de um bar nova-iorquino e a Julia a cumprir pela enésima vez o sonho americano da rapariga de província, tentando singrar na grande cidade, desta vez como songwriter. Acho que estava a tentar explicar porque é que tinha comprado o dvd (parece-me evidente, mas enfim). No filme, Julia acaba por ter sucesso a cantar «Can’t fight the moonlight» de LeAnn Rimes (que faz um pequeno cameo). Cheguei a Lisboa e vi o filme outra vez – ontem, precisamente. Hoje, vou ver o hotmail e deparo com isto. Serendipity? Não rejeito à partida uma ciência que desconheço. Deixei-me disso. Rui

 

E se de repente não houver ondas?

O surfista fica à toa na praia quando não há ondas. Cai vítima de uma espécie de depressão telúrica, de derrota íntima. Muitos - estou convencido - não gostam sequer de ir à água e chapinhar. O tomar banho com as outras pessoas, como as outras pessoas, não os entusiasma por aí além. Nem nadar, nem jogar raquetes. Não: ou surf ou nada. Nada não é bem assim, até porque já vi uns que jogam xadrez e outros que, sabiamente, dormem. No fundo, é como dizia um surfista aussie ao chegar a dreamland e ver o swell mais flat que uma tábua de engomar: «I think I’ll just go home and cry». Rui


 

Said was on to something

Enquanto os turistas brancos procuram bronzear-se a todo o custo, os balineses, mas sobretudo as balinesas, esgotam os stocks de «whitening lotion» nas farmácias e supermercados. Rui


 

DDR esplanar


[Johnny Cash, The Man Comes Around, 2004]

Rui

 

Sociologia da família

Bourdieu dedicou os seus últimos dias à denúncia da «dominação masculina». Felizmente, existe a técnica da entrevista, que nos permite saber como as coisas realmente se passam. Hoje contaram-me que, já em 1991, num trabalho sobre valores sociais, uma socióloga belga chegou a conclusões surpreendentes (?) sobre os processos de decisão em «contextos familiares». Numa entrevista, a investigadora perguntou a uma «doméstica» quem tomava as decisões lá em casa. A senhora disse que «o marido tomava as decisões mais importantes» e ela «as menos importantes». Se estivéssemos perante um simples questionário, a conversa ficava por ali. Mas a entrevista permite-nos ir mais longe. «Aprofundar». «Explorar». E a entrevistadora, como lhe competia, «aprofundou» e «explorou» - no sentido de perceber que decisões (mais ou menos «importantes») eram essas. A resposta da entrevistada foi, de facto, interessante: «Por exemplo, eu decido a marca do carro que havemos de comprar, o bairro para onde nos vamos mudar, a escola onde quero pôr os meus filhos; ele decide qual a posição que devemos ter sobre a Guerra do Golfo». Filipe

segunda-feira, agosto 23, 2004

 

A Profissão Menos Exigente do Mundo

Conclusões de um estudo publicado na revista Neurology revelam, entre outras coisas, que aqueles que sofreram da doença de Alzheimer foram os que tiveram profissões psicologicamente menos exigentes. Li a notícia e a única coisa em que consegui pensar foi na “profissão” de Ronald Reagan.

P.S. Esta piada é da minha namorada, a Catarina.
João Pedro


 

Miguel Sousa Tavares fez as pazes com José Eduardo Moniz


MST é o campeão da ética jornalística. E da coerência. Em Maio de 1991, numa entrevista à revista K, MST afirmava ao jornalista Pedro Rolo Duarte:

MST: “Não existe a RTP. Existe a TV do José Eduardo Moniz. Está ali para se servir e o preço que tem de pagar é servir o poder, seja o PS (que o meteu lá, não esqueçamos....), seja o PSD ou outro qualquer. Este tipo de gente serve todos os regimes. Mas ele não é eterno: não pode ir mais acima porque já está no topo da empresa, é quem manda mais. Portanto, a esta hora já deve andar a namorar as privadas. E ainda vamos assistir ao cúmulo da imoralidade – que é o José Eduardo Moniz, o homem de mão, o homem que moldou a RTP à sua semelhança, depois de minar a TV pública e liquidar a sua credibilidade, sair para outro canal e passar a concorrer com a própria RTP.”
K: “Está a chamar-lhe mafioso, maquiavélico?”
MST: “Não. É apenas um tipo esperto. (...) Com o Moniz, a informação andou 30 anos para trás."
(...)
K: “Como é que vê o seu futuro na Televisão, considerando os canais que aí vêm?”
MST: “Vejo o futuro muito negro. Acho que não voltarei a trabalhar em televisão. Repare: a RTP será sempre um instrumento do poder – e eu ali serei sempre incómodo; quanto aos canais privados, entre os projectos que se perfilam... duvido que algum me queira; e vice-versa. Acho que a minha carreira televisiva acabou.”
João Pedro

 

Introdução ao tempo

Hoje, sentado a tomar o café da manhã na esplanadita que meus pais improvisaram no quintal de casa, notei o imenso prazer que inspira aquele som familiar da chávena a tocar o pires, sobretudo se um e outro forem grandes (com os dos "expressos" não dá...).
Aquele tom de cristal, pausado, repetido, duas, três, quatro vezes, conforme o que durar beber o café ou o chá, fala mais do tempo que muitos ensaios da filosofia e da psicologia.
Pensei em como me poderiam invejar os vizinhos que, ao lado, estivessem a ouvir esse tinir (tinir... um dos melhores nomes que já inventámos para um verbo, por ser tão próximo da onomatopeia). Um tinir não se ouviria a meio de uma guerra, ou de uma reunião de última hora, ou na praia apinhada ou na pastelaria da berma da estrada.
O tinir da chávena com o pires é um ronronar vaidoso daqueles que têm tempo. Uma palavra sobre paz. Aquilo que os cubanos poderiam resolver com o belo "hay más tiempo que vida..."
Alexandre

 

Patadas y Patadas

Já que estamos na música, uma pequena nota para os Xutos.
Os Xutos que se vêm mantendo vivos, umas vezes melhor, outras pior, mas que agora voltaram aos velhos tempos com este "Ai, se ele cai". Está lá tudo. A voz, o baixo e as letras do Tim (tudo para esquecer), a guitarrada do João Cabeleira, a energia e back vocals do Calú, o carisma e o ritmo do Zé Pedro e um saxofone que regressa, depois de muitos anos de infeliz desaparecimento (tudo para lembrar).
Os espanhóis, no seu talento para a tradução, nunca saborearão esta boa parte do Rock. Quem compraria um disco de uma banda com um nome daqueles?
Alexandre

 

2069

Dançando ontem num animado bar da noite terceirense, dei-me conta do estranho fenómeno que existe em torno de "Summer Of '69", de Bryan Adams. A música tem uma data de anos e eu, pelo menos desde os meus 16, vou a discotecas e vejo os jovens, os jovens que são outros, evidentemente, com o passar do tempo e a mudança dos lugares, a vibrar sempre que ouvem os seus acordes iniciais. A gritar a letra como se fosse o fim do mundo e com o empenho de quem fala em causa própria.
Ora, a parte em que a convicção e o berreiro se tornam mais veementes diz o seguinte: "those were the best days of my life!"
"Summer of '69"?! 69?? Mas nenhum deles estava vivo na altura! Aliás, agora que penso nisso, o próprio Bryan áté era capaz de já estar vivo, mas não teria, seguramente, idade para viver "os melhores dias da vidinha dele". E se é uma esperança para o futuro, então deixem-me que vos diga que já terão todos oitenta, noventa e tal anos no próximo verão de '69.
E aí, amigos, o que a malta vai curtir com as arrastadeiras, as placas pelo ar, as cadeiras de rodas a fazer acrobacias...
Isso é que vai ser um verão.
Alexandre

 

Os olhares para além da poeira

Uma das mais espantosas habilidades de Portugal e dos portugueses é a forma como conseguem afastar-se de tudo aquilo quanto é importante para se perder no acessório, mantendo a aparência de total seriedade e solenidade que os assuntos iniciais mereciam.
Quando o Processo Casa Pia começou, o que estava em causa era aquilo que deveria estar em causa, isto é: que pudesse ou não existir uma rede de abusadores de crianças e que, a existir, fosse por isso levada a julgamento e consequente condenação. Poucos dias depois, já não era isso que importava, outrossim, quem lá estava metido. Quem era pedófilo? Um anónimo ou um famoso? Um político ou um futebolista? Passado mais algum tempo, também esse ângulo perdia o seu interesse: as estrelas passavam a ser os advogados, o juiz Rui Teixeira, o procurador Souto Moura, o funcionamento da justiça portuguesa em geral. Há coisa de 15 dias, o que importa, mas o que importa mesmo, o que está em causa, é Octávio Lopes e Inês Serra... Lopes, o Correio da Manhã, O Independente e a Focus, a ética dos jornalistas, a confianças das fontes, as assessoras de imprensa.
Alguém se recorda de como começou esta história? Haverá alguma vítima a sentir-se justiçada pela guerra verbal actual? Do momento inicial a este, poderá uma criança abusada repetidamente por um pervertido, famoso ou anónimo, sentir que valeu a pena testemunhar e queixar-se, ao ver a Inês Serra Lopes ser proibida de revelar mais conversas gravadas à socapa por Octávio Lopes, por entre a negligência do procurador-geral da república?
In your dreams...
Alexandre

sexta-feira, agosto 20, 2004

 

Maradona e Napoleão (agora com um final diferente)

Mantinha-se em pé com dificuldade. Mal se podia ter nas pernas. Ficou um instante parado, indeciso sobre o que iria fazer. Passou as mãos nervosas pelo cabelo, pela testa coberta de suor, e deixou-se finalmente cair no sofá. Chegara no dia anterior, sedado, exausto, com dificuldades respiratórias. Dali, na sala de convívio daquela clínica psiquiátrica de Buenos Aires, El Gran Maradona conseguia ouvir o bramido indistinto dos jornalistas aglomerados nos portões da entrada. Teve um acesso de tosse, como se fosse um furacão. De olhar fixo e a cabeça enterrada nas golas da canadiana, um doente deteve-se mesmo à sua frente, com um cigarro à altura da boca, entalado entre dois dedos sujos de nicotina. Chupou o cigarro até ao filtro. Por entre os lábios arroxeados, com os cantos cobertos de saliva ressecada da nicotina, libertou a última baforada para o ar. Diego olhou em volta. Homens e mulheres andavam de um lado para o outro, de cá para lá, como leões presos numa jaula. Num canto da sala, sentada numa cadeira, embrulhada em si própria, apática, perfeitamente imóvel, uma mulher de cabelos cinzentos, com a palidez de Saturno, vazia de pensamentos e olhos desvidrados. Em pé, um jovem de calças de ganga coçadas e uma t-shirt branca, de braços estendidos, fixava uma mancha de tinta na parede com o olhar de um cavalo a morder. Sempre que se sentia observado, como naquele momento, baixava os olhos, como se tivesse medo de revelar os pensamentos. Confundido em visões vagas e indefinidas, estava convencido que todos os outros suspeitavam dele. Sentado na mesa de madeira do lado direito de Diego, um velhinho com a testa cheia de verrugas, sobrancelhas unidas e farfalhudas, olhos engelhados, barba a escorrer da boca. Parecia ter a mesma idade do planeta Terra. Paralisado com um garfo no ar, comia uma sopa de espinafres, verde como um relvado. Diego deixou-se subitamente levar pelo movimento passivo das imagens do passado, os primeiros pontapés na bola na equipa infantil dos Cebollitas, o cheiro a humidade das regas antes dos jogos, os 111 golos marcados ao serviço dos Argentinos Juniores, o Boca Juniores, o primeiro contrato na Europa, no F. C. Barcelona, a transferência para o Nápoles, um clube que na época anterior estivera quase a descer de divisão, a euforia do primeiro scudetto, aquela canção napolitana típica, ‘o surdato ‘mammurato (o soldado enamorado), que os fãs cantavam durante os desafios. A Nápoles das ruas e vielas barulhentas, dos bordéis e das casa de jogo, das mulheres de má vida, a cidade da massa folhada e do macarrão, dos chouriços e das morcelas, das almôndegas e das chirivias, dos casatielli, dos raffioli. O regresso à Argentina, os campeonatos do mundo, sobretudo aquela vitória sobre a Inglaterra, a mão de Deus vingando toda uma nação. Agora estava ali, gordo como um hipopótamo, com a cabeça maior que uma abóbora, a fazer mais uma cura de desintoxicação, acabado para sempre, entre indivíduos que arrastam os pés e acendem cigarros uns atrás dos outros. Voltou a encarar a realidade que o rodeava. O velho da sopa arrancava agora as côdeas ao pão, envolto no numeroso povo dos sonhos. Outro gritava, dizendo: “enfermeira, borrei-me todo”. Começou a esbracejar e a mandar pontapés no espaço vazio do invisível. Os enfermeiros agitaram-se, seguraram no indivíduo e arrastaram-no como um carneiro para a degola. Na janela, com a testa contra o vidro, uma mulher contemplava a paisagem e a luz oblíqua que o sol espalhava sobre o mar, ao longe. Um homem nos seus quarenta anos dirigiu-se a ela com gestos de quem pede lume. A mulher acendeu-lhe o isqueiro debaixo do nariz, ele juntou avidamente as mãos em concha por cima da chama trémula e aproximou o cigarro. Logo se seguida voltou-se para Maradona. Alguém finalmente o tinha reconhecido, pensou Diego. Estendeu a mão e apresentou-se: “Como está, o meu nome é Diego Armando Maradona”. "Muito prazer, eu sou o Napoleão".
João Pedro

 

Links

Neste verão em que todas as tardes e todas as noites têm tido a sua história, ainda não consegui sentar-me e escrever o texto que fizesse justiça a todas as boas pessoas que tenho conhecido e a todos os amigos que insistem em sobreviver aos anos que por nós passam, à distância e em silêncio. Também ainda não concluí, confesso, se faz algum sentido estar para aqui a escrever sobre aquilo que apenas a epiderme sabe de cor.
Em todo o caso, sei que tenho, pelo menos, de sorrir e agradecer à Raquel, à Sandra, ao Guillaume e ao João; ao Rui e à pequena Inês; à Tina e à Paula.
Creio, para mais, que converti já alguns de vós a visitar-nos por aqui. E, de novo, me parece que um blog, mais que ao ego ou à literatura, pode servir a causa dos afectos.
Alexandre

 

Mialgia de esforço

Desculpem-me o silêncio de dois dias. Estou a entrar numa zona profunda das férias em que toca o irracional qualquer esforço braçal que não signifique:
a) erguer a cervejinha
b) arrancar cabeças a meio-quilo de camarão
c) nadar (se estritamente necessário)
d) folhear ementas e cartas de vinhos
De qualquer modo, é muito bom, muito bom mesmo, ver esta esplanada cheia e em grande forma.
A propósito, as tardias boas-vindas ao João Pedro. Ainda há dias começou, mas parece que esplanava desde pequenino...
Alexandre

 

Gershwin de embalar

Venho tarde, mas também peço um disco para o Rodrigo. Destaque para a polémica secção em que se insinua que o Nuno seja rico.
Summertime
and the livin' is easy
fish are jumpin'
and the cotton is high
Your daddy's rich
and your mamma's good lookin'
so hush little baby
don't you cry
One of these mornings
you're going to rise up singing
Then you'll spread your wings
and you'll take to the sky
But till that morning
there's a'nothing can harm you
with mamma and daddy
standing by
Summertime
and the livin' is easy
fish are jumpin'
and the cotton is high
Your daddy's rich
and your mamma's good lookin'
so hush little baby
don't you cry
don't you cry
don't
you
cry...
Alexandre

quarta-feira, agosto 18, 2004

 

O Guardador de Retretes!


É o título de uma obra inestimável, utilíssima. Pedro Barbosa, o autor (quem é? que é feito?), recolheu centenas de frases escritas nas paredes de casas de banho públicas. O livro já é antigo e de uma editora entretanto desaparecida (Fora do Texto, colecção Coisas do Carvalho, nº 4). O texto de apresentação merece ser citado e, como se costuma dizer, mantém-se actual:

“Afaste imediatamente essa ideia que lhe veio à cabeça de que isto é uma colecção de merda! Lembre-se do que o Boris lhe disse: a merda está na cabeça das pessoas! Mas se, com licença!, cagar é bom então atirar o barro escrito (!!!) à parede das casas de banho é muito mais interessante. Escrever com o que cago, no que cago ou cagar no que escrevo é o mais puro retrato destes intelectuais bem pensantes que governam os nossos destinos! Uau!
Cagar é cultura.”
João Pedro

 

Manuel Alegre, caçador de citações

Ainda a propósito da entrevista de José Sócrates. A trapalhice, o exibicionismo parolo, as citações a granel. Tudo isso é verdade, já foi dito. Mas, pensando bem, e comparando com os outros candidatos à liderança do PS, é injusto. Veja-se o caso de Manuel Alegre no seu último romance, Rafael. Só autores citados são 84, muitos deles, ainda por cima, mais do que uma, duas, três, quatro vezes (em Rilke, por exemplo, o leitor tropeça 8 vezes). Manuel Alegre cita mais depressa do que a própria sombra. Sócrates, bem vistas as coisas, limitou-se a citar 9 nomes: Miguel Torga, Sartre, Erich Maria Remarque, Fellini, Voltaire, Eduard Bernstein, Pessoa, Karl Popper e Vinicius de Moraes. Em Alegre há um verdadeiro fogo cerrado de referências a escritores, filósofos, pintores, músicos, cineastas e cantores. Frases entre parêntesis, poemas em itálico, sentenças em francês, versos em italiano. Uma barafunda onde se misturam André Breton, Marx, Semprum, Camilo, Rimbaud, Joyce, René Char, Sartre, Eça, Mandelstam, Sá de Miranda, Lorca, Jean Moulin, Camões, Camus, Juliette Gréco, Godard, Pero Vaz de Caminha, “o mestre Dante”, Henri Michaux, Silva Gaio, Churchill, Aquilino, Conrad, Oliveira Martins, Bernardim, Freud, Gil Vicente, Sarmento Pimentel, Picasso, Guido Cavalcanti, Leo Ferré, Aragon, Lacan, Eugénio de Andrade, Omar Kayham, Plekhanov, Feuerbach, Vieira da Silva, Malraux, El Greco, Mozart, Erasmo. Tudo serve de pretexto para Alegre convocar referências cultíssimas. E as variantes na forma como introduz as citações são inesgotáveis: “aquilo a que Hölderlin chamaria”; “Nietzsche tinha razão”; “assim cantava o poeta Fernando Assis Pacheco”; “o chinês de Fernão Mendes Pinto tinha razão”; “o país quietinho de que falava Teixeira de Pascoaes”; “seguir a lição de Sthendal”; “alguns de vocês deviam ler Trotski”; “recitando Herberto Helder”, “você não leu Thomas More?”. Há citações que são autênticos achados, como “o orgasmo é a base da saúde mental” (Willelm Reich). Exemplos tão originais como “a burocracia francesa parece saída das páginas de Kafka” ou “a música de Bach é uma equação matemática”. E, sabe-se lá porquê, uma referência inesperada ao “caralho de Guerra Junqueiro”. Como diria Manuel Maria Carrilho, apoiante da candidatura de Manuel Alegre: “Até o próprio Sócrates terá, se calhar, descoberto que o Oxford Dictionary of Quotations não substitui... Oxford, ou seja, que citar muitos autores não traduz sabedoria, antes revela, muitas vezes, o seu contrário”.
João Pedro

 

Citando Manuel Alegre, "Rafael" (Dom Quixote)

1. Bushismos de Manuel Alegre
“Estás em Coimbra mas não estás em Coimbra”
“Rafael está ali e já não está”
“O acontecimento não acontecido”

2. Máximas filosóficas de Manuel Alegre
“Sinto-me estrangeiro dentro de mim mesmo”
“O sentimento de ser estrangeiro no mundo”
“Clandestino dentro de si mesmo”
“Alguém se escreve”
“É com o corpo que te escreves”

3. É isto um candidato a Secretário-Geral do PS?
“A verdade é que não sei como vim parar aqui”
“Não sei sequer ao certo onde estou”
“Andar à pêra com o regime”
João Pedro


 

DDR esplanar

Josh Rouse está a tocar neste preciso momento em Paredes de Coura. E eu aqui. Só nos arrependemos do que não fazemos, e eu tenho a certeza que me vou arrepender de não ter ido lá. Já estou, aliás. Rui

 

...

A Figueira

Não tenho mãos para o azul.
Sonho com o mar
que não está longe mas não vejo
arder.
Só a sombra parece estar em casa
debaixo dos meus ramos:
canta baixinho enquanto se descalça.

[Eugénio de Andrade, Poesia, 2000, p. 446]
Rui

 

A VIP

Ao contrário da Caras, a revista VIP vai directamente ao que interessa: José Castelo Branco, Elsa Raposo, Merche Romero e Marcelo Rebelo de Sousa – são apenas uma pequena amostra da grande qualidade de conteúdos que último número oferecia aos leitores. Comecemos pelo casal Betty Grafstein e José Castelo Branco. Dizem os entendidos que, à medida que os anos passam, marido e mulher ficam parecidos, não só psicológica mas também fisicamente. É precisamente isso que está a acontecer a este simpático casal. Com a ajuda da cirurgia plástica e dos cabeleireiros, José está cada vez mais parecido com Betty. Tudo indica que José Castelo Branco vai ser um dos animadores da Quinta das Celebridades (um programa da TVI), o que, para Betty, constitui um enorme alívio: «essa será a única maneira de o manter longe das lojas». A maioria dos maridos irrita-se com o tempo que as mulheres perdem nas lojas. Aqui passa-se exactamente o contrário.
Já a entrevista a Elsa Raposo começa com uma pergunta desconcertante, mesmo para quem acompanha de perto este fenómeno (como pensava ser o meu caso): «Como classifica a Volta a Portugal em Bicicleta?». Lendo e relendo a entrevista, tentei perceber o tipo de relação de Elsa Raposo com o ciclismo - e nada. A única coisa que fiquei a saber é que Elsa Raposo também vai participar na Quinta das Celebridades. «Estar tanto tempo afastada dos meus filhos vai ser a parte mais complicada, mas eles ver-me-ão, com certeza, na televisão», confessa Elsa. Ou muito me engano ou a «parte mais complicada» vai ser justamente quando os filhos a virem na televisão. Segue-se outra mulher não menos interessante: Merche Romero. É a primeira vez que contacto com a filosofia de vida desta apresentadora e parece-me que, finalmente, encontrei uma mulher que me compreende: «Isso de dizer sou uma "supermulher" e não preciso de homem para nada é mentira. Uma mulher muito feminina, como eu, não pode ser feminista, porque precisa de um homem a seu lado.» Merche limitou-se a confirmar empiricamente o que há muito se suspeitava no campo das ciências da vida: há uma incompatibilidade ontológica entre a feminilidade e o feminismo.
Igualmente surpreendentes são as declarações do professor Marcelo Rebelo de Sousa. Durante a semana em que esteve no Algarve, deu 16 mil braçadas na praia e ainda arranjou tempo para conceder três entrevistas: uma à Caras, outra à Lux e esta à VIP. Por muitas voltas que se dê, nada se compara ao Algarve. «Nesta altura do ano encontramos aqui o que não encontramos em mais lado nenhum». É bem verdade: encontramos o mesmo que em Lisboa no resto do ano. Mas, para além desta descoberta extraordinária, o professor parece ter encontrado a solução para o problema das separações, um flagelo que, segundo a própria Clara Ferreira Alves (na Caras), «afectou toda uma geração». Marcelo namora há vinte anos com Rita Amaral Cabral e nem quer ouvir falar em casamento. Segundo a revista VIP, «O professor considera que o noivado perene tem o lado bom de uma relação afectiva forte, sem o desgaste da rotina». Filipe

 

A Caras

Uma das coisas de que sinto mais falta é das revistas que a empregada da esplanada da Alexandre Herculano nos emprestava. Este fim de semana, deixei-me de merdas e comprei a Caras e a VIP. A Caras é uma revista que aponta para o que em sociologia se chama «pessoas em situação contraditória de classe». Começa com uma entrevista a Clara Ferreira Alves, passando logo de seguida para Maria João Abreu e José Raposo, um popular casal da revista à portuguesa. Parece que a actriz Maria João gosta muito do filho, mas confessa que «adorava ter uma menina, para vestir de cor-de-rosa e usar muitos lacinhos». Só que, para sorte da futura «menina», as coisas não andam muito bem lá em casa. José Raposo queixou-se mesmo à Caras: «Eu ainda gostava de a ter, mas não há daquele lado uma colaboração muito grande».
Depois de vermos Jean-Paul Sartre fotografado por Henri Cartier-Bresson, este número da famosa revista termina em beleza com uma entrevista à jovem Olga Diegues. Apesar da idade, a Olga revela já um currículo invejável. Para além dos inevitáveis cursos de «valorização pessoal», Olga fez «jornalismo de entretenimento» (antigamente, uma contradição de termos) e passou «pelo workshop do Marcantónio Del Carlo» (certamente um senhor muito conhecido). Foi certamente este workshop que a levou para a telenovela Morangos com Açucar, mais precisamente para o papel de Helga, que a própria (Olga) descreve como «uma tontinha esperta». No entanto, o que a Olga «gostava mesmo era de conseguir conciliar o trabalho de repórter e o trabalho de actriz». Seria uma actriz-repórter, que é como quem diz «uma tontinha esperta». Filipe

terça-feira, agosto 17, 2004

 

O puto lindo

Para o Nuno, a Mónica e o Rodrigo, o puto lindo: a luz, o mundo e o azul todo que há.




Beautiful Boy

Close your eyes
Have no fear
The monster's gone
He's on the run and your daddy's here

Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy
Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy

Before you go to sleep
Say a little prayer
Every day in every way
It's getting better and better

Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy
Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy

Out on the ocean sailing away
I can hardly wait
To see you come of age
But I guess we'll both just have to be patient
'Cause it's a long way to go
A hard row to hoe
Yes it's a long way to go
But in the meantime

Before you cross the street
Take my hand
Life is what happens to you
While you're busy making other plans

Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy
Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy

Before you go to sleep
Say a little prayer
Every day in every way
It's getting better and better

Beautiful, beautiful, beautiful
Beautiful boy
Darling, darling, darling

[John Lennon, «Beautiful Boy (Darling Boy)»]
Rui

 

O homem-aranha

Uma das piores coisinhas que tem o verão é aquele critério aparentemente comum a todas as distribuidoras cinematográficas. Parece que querem convencer a malta de que o melhor é mesmo comprar um livro e lê-lo na praia, porque ir ao cinema está fora de questão. Uma sucessão de blockbusters infantis que, na melhor das hipóteses, nos deixam deprimidos com a vida que temos, desprovida de efeitos-especiais e louras bombásticas.
Imagino, contudo, que, este ano, pelo menos um homem se tenha revisto e comovido com um desses filmes de verão. Consigo ver Santana Lopes à saída de uma sessão do “Homem-Aranha II”, no cinema Monumental, abatido, e ainda de lágrima no olho.
Afinal, é um filme sobre um trepador solitário, lançador de teias, que tira e põe a máscara, inconstante e dividido entre a sua predestinação de super-herói e os imbróglios da sua vida pessoal. Ainda por cima, também tem problemas com comboios e é mal-amado pela imprensa.
O homem tem de se ter sentido compreendido.
Alexandre

 

O mistério Roseta

Por enquanto, ainda pouco se sabe do que pretende ou tem já vindo a fazer a nova ministra da Cultura, Maria João Bustorff, à parte a intenção de, a exemplo do que Luc Férry fez em França e Manuel Maria Carrilho tentou implementar em Portugal, reservar 1% do Orçamento de Estado para a Cultura.
Faça ela o que fizer, espero, ao menos, que resolva depressa o mistério Roseta, porque já mal aguento o suspense. Que o retire debaixo do móvel pesado que o impedia de se mexer ou que lhe destranque a porta da casa de banho do Palácio da Ajuda em que ficou trancado desde o segundo ou terceiro dia de governação.
Feitas as contas, já teria mais obra que o seu predecessor.
Alexandre

 

o judo


O judo é provavelmente dos desportos menos televisivos que existem – sobretudo pelo tempo que os atletas levam a fazer a pega. No entanto, ex-praticante que sou (foi, aliás, o único desporto que levei a sério), não consigo deixar de me interessar pelas provas dos Jogos Olímpicos. É sabido: o pior momento neste tipo de provas não é o combate em si. É a espera. As horas, os minutos, os segundos que antecedem a luta. Tudo isso termina quando chamam o nosso nome. Senti-o à minha escala – os campeonatos nacionais - e posso imaginar o que seja numa prova olímpica. O locutor a anunciar o nosso nome pelas colunas. A dizer que, a seguir, somos nós que vamos subir à arena. Nessa altura, o coração dá um esticão e solta-se. E, animal acossado, só volta a aquietar-se quando o árbitro dá por terminado o combate. Nuno

segunda-feira, agosto 16, 2004

 

DDR esplanar

Rui

 

José António Saraiva: conselheiro do governo sul coreano

Há uma semana, o director do Expresso propôs a mudança da capital para o interior. Houve galhofa, riu-se a bom rir, o que já se tornou um hábito com as crónicas de JAS. No último sábado, porém, JAS vingou-se: “Esta semana, a Coreia do Sul anunciou finalmente a decisão de mudar a capital, situando a nova cidade numa região rural”. Vão buscar!
João Pedro

 

Pedro Rolo Duarte: a volúpia do aborrecimento


Ofereceram-me Sozinho em Casa. Não o filme, mas o livro de Pedro Rolo Duarte (Oficina do Livro). Todas as sextas-feiras, do alto das suas crónicas no Dna, com aquela trunfa de profundos pensamentos, Rolo Duarte consegue dar à palavra aborrecimento uma significação mais vasta. Ontem, domingo, antes de ir dar milho aos pombos, decidi finalmente folhear o livro do irmão da inefável Camila Coelho. “Um diário da solidão” sobre “aquilo de que é feita a vida de todos nós”, assim nos é explicado, no início, o conteúdo da obra que temos nas mãos. Mordido de curiosidade, fui ver como era a vida do director do Dna. Seria realmente como a de todos nós?
Vejamos, na primeira pessoa, como PRD ocupa o seu tempo. Eu bebo gin tónico com duas ou três gotas de sumo de limão (antes de sair de casa certifico-me sempre se o gin não esgotou e se os citrinos estão no frigorífico). Eu vou comer pizzas à Piazza di Mare e ao Casanova. Sei fazer uma boa feijoada e até já gosto de ovos escalfados. “Tenho para comigo” que a piscina do Estoril Sol é a melhor de todas, que as camas do Meridien do Porto são insuperáveis e quanto ao Altis falem-me do bife tártaro. “Tenho para comigo” que os melhores restaurantes de Lisboa são o Travessa, o Pap’Açorda, o XL, o Bica do Sapato. Mas “tenho para mim” que peixinho com sal é no “Petit” de Algés. Bebo whisky irlandês com o Miguel Esteves Cardoso e às vezes tenho depressões, nada que um Jameson, seco, em copo alto, não resolva. Vou à FNAC comprar imensos livros, revistas e cd’s. Gosto de ir ao Pão de Açúcar das Amoreiras. “Tenho para mim” que a Costa Alentejana já foi melhor. A minha casa em Odemira é o máximo. Eu era um bocado piroso quando era pequeno mas continuo a gostar de Suzanne Vega, do Rui Veloso, do Vergílio Ferreira e blá blá blá, blá blá blá...
Ler Sozinho em Casa é ficar a saber até à exaustão o que Rolo Duarte gosta e não gosta, as horas a que acorda, os jornais que compra, os discos que ouve, a comida que come, etc., com algumas opiniões pomposas e uns quantos espirros poéticos pelo meio. O jornalista já tem 40 anos e ainda está a viver a crise dos 30. Como dizia a minha avó, é como o ovo, não tem ponta por onde se lhe pegue. Em suma: mais um livro para cair no eterno esquecimento.
João Pedro

 

Porto Mosquito

Falando ainda em salvamentos: esta semana foram encontrados junto à costa brasileira nove pescadores cabo-verdianos dados como desaparecidos desde o mês de Maio. Segundo se sabe, sobreviveram à custa da água das chuvas e do peixe que foram pescando. Num zapping nocturno, encontrei as famílias dos pescadores em danças e festejos por causa da notícia. E tentei adivinhar nos depoimentos em crioulo das mulheres vestidas de negro toda a alegria de uma terra chamada Porto Mosquito. Nuno

 

Via Láctea

Há um lado Reader’s Digest no relato que o “Expresso” trouxe este fim-de-semana sobre o salvamento dos mergulhadores portugueses no Mar Vermelho. Mas a história não deixa de ser forte e significativa. De todo o relato ficou-me sobretudo um pormenor. Às 20h, ou seja 12h depois de os mergulhadores se terem perdido da embarcação, o céu cobriu-se de estrelas. “Foi uma visão fantástica!”, diz Alexandra Gaspar, uma das sobreviventes. Sim, o pormenor é este: um grupo de pessoas à deriva, cheias de frio e na iminência da morte, comoveu-se ao olhar a via láctea. Nuno

 

Ó Glória! Ó êxtase!

Amigos, ontem cumpri um sonho antigo. Realizei-me. Deixei marca. Senti que tinha chegado lá. Que nem todos os esforços haviam sido vãos. Que, afinal, há compreensão algures.
Uma mulher disse-me que eu era mais bonito que o Tom Cruise.
Juro.
É certo que o precedeu de uma história em que o encontrara para umas fotografias e que percebeu que ele tinha 1m60 e não era nada de especial, mas... who cares?
Mais bonito que o Tom Cruise, sim senhor... Isto um dia tinha de saber-se.
Alexandre

 

A memória

[Luchino Visconti, Senso, 1954]

Tenente Franz Mahler: Estás a ouvir este barulhinho, este correr de qualquer coisa?
Condessa Livia Serpieri: Não...não estou.
Mahler: Há coisas de que só nos apercebemos quando nos recordamos, na memória.
Rui


 

Mandasse eu no mundo e…

Se num daqueles questionários fechados da imprensa me perguntassem o que faria se fosse primeiro-ministro ou presidente da república ou, de modo mais ganancioso, simplesmente, mandasse no mundo, a minha resposta estaria já engatilhada: enviava Alberto João Jardim para o Iraque, por troca com as tropas da GNR.
Com esta decisão, creio que correria o sério risco de fazer História na política, ao conquistar, pela primeira vez a aprovação de todo o espectro político nacional. Governo, oposição, ilhéus, continentais, familiares dos militares e até aquele senhor que nunca pode desfilar no Carnaval porque o Alberto João lhe fica sempre com o lugar e a fatiota. A Aliança agradecer-me-ia esse reforço do poderio do nosso contingente e até Pacheco Pereira poderia ir, tranquilamente, para a UNESCO porque veria que, afinal, o País estava em boas mãos. Aposto que até os iraquianos ficariam satisfeitos, já que o estilo governativo de Jardim os faria sentir, de novo, em casa.
Para o homem não ir sozinho, até o autorizava a levar o Jaime Ramos. E com esta, garantia, de certeza, a reeleição.
Alexandre

 

Versículos socialistas

Mal posso esperar por Outubro e pelo espectáculo que será, certamente, esse congresso socialista. Estou certo de que Alegre marcará a diferença. Em primeiro lugar, porque – quero crer – escreverá a sua própria moção, em vez de a encomendar a Sérgio Sousa Pinto ou a qualquer autor de um desses livrinhos com frases bonitas ditas por este e por aquele, de Shakespeare a Tiago Rebelo; em segundo, porque essa moção será, espero, escrita em quadras e rima interpolada. Qualquer coisa como isto: “Os abris que Abril abriu / O país que pôs o pão / O cravo que cravei caiu / Mas este charuto não!!!”
Desde que fique melhor que aquele poema para o Figo e que a palavra “Abril” não ocorra acima de um limite higiénico de 90 utilizações, tem a minha (importantíssima) simpatia.
Alexandre

 

Ikea é má ideia

Os lápis são óptimos: roubei quatro, mas não comprei nada. Achei mal o modelo social; acheio-o pouco nórdico e surpreendentemente pouco de esquerda. Os empregados são raros e ninguém explica nada. Quem precisa realmente de alguém que, em frente a um computador, lhe «planeie a estante»? Onde é que está a senhora que se senta no colchão, a experimentá-lo, e nos faz sonhar? Já sei, está na Moviflor. É isso: o IKEA não faz sonhar (a Moviflor também não, mas ao menos a senhora senta-se no colchão a experimentá-lo e fala-nos longamente das «molas»). O IKEA é bom para comprar aquilo que não gostamos muito porque na verdade não temos dinheiro para comprar aquilo de que gostamos muito, noutro lado qualquer, como na Octógono. Bem sei dos preços, mas se um tipo não for elitista com a cama em que se deita, então sê-lo-á com o quê? Rui

 

Facho olímpico

Mas porque é que o Senhor Presidente em vez de correr com a Rosa Mota não corre de vez com a senhora inspectora Rosa Mota?
Rui

domingo, agosto 15, 2004

 

Um palavrão por 10 cêntimos

Santana Lopes e Francisco Louçã eram ainda uns garotos quando se cruzaram no recreio do Liceu Padre António Vieira. Santana Lopes (provavelmente com Carmona Rodrigues, que também estudava por essa altura no Padre António Vieira) organizou um peditório e propôs a Louçã que dissesse um palavrão por 20$00 (10 cêntimos). Louçã, como Daniel na cova dos leões, disse que não. A história foi contada numa das edições de Julho da Grande Reportagem, no esboço biográfico Santana, o Inconstante. Agora imaginem que o líder do Bloco de Esquerda tinha proferido o palavrão e metido ao bolso os 20$00. Com que cara iria Louçã à Assembleia discutir as políticas do primeiro-ministro? O que seria hoje da sua credibilidade política? Estava pura e simplesmente anulada.

 

Roger Dodger

Joyce: Just so you know Roger, you know that we women make love because we like it. Not just to procriate.
Roger: Yes. But are men absolutely necessary?
Joyce: I don't know that.
Roger: Think of the structure of the female genitalia.
Donovan: Wait. Wait. Ok, got it.
Roger: What is the most sensitive part of the vagina? It's the clitoris, first discovered by Renolds Columbus in 1559.
Donovan: First he thought it was India.
Filipe

 

Os territórios impróprios

Por incrível que pareça, só hoje me apercebi do que falamos quando falamos de >18.
O que está, essencialmente, interdito aos menores de 18 anos? O voto e a pornografia.
É preciso verbalizar alguma piada sobre a analogia entre a vida política e os filmes x-rated ou podemos ficar assim?
E, já agora, porque é que, em miúdos, tínhamos tanta vontade de fazer 18 anos? (Ok. Há a carta de condução. Mas valerá também a pena fazer graçolas com o que é conduzir em Portugal?)
Alexandre

 

Queres ver…

Depois do estudo de impacto ambiental às obras do túnel do Marquês de Pombal ter dado razão às intenções de Santana Lopes, revelando que melhorará a qualidade do ar e reduzirá o ruído naquela zona de Lisboa, temo pelo dilúvio de mais acontecimentos estranhos.
Que um inquérito de Verão aos turistas da Figueira confirmasse que só lá passaram a ir depois da plantação das palmeiras. Que Mário Soares desabafasse ter-se oposto à indigitação de Santana como primeiro-ministro apenas porque, assim, tínhamos perdido um bom presidente da república. E que uma equipa de estudiosos da obra de Chopin viesse revelar a descoberta das suas obras para violino, já agora, ainda mais belas que as do período do piano. Que, numa informação de última hora chegada do Brasil, os descendentes de Machado de Assis confirmassem o rumor segundo o qual o escritor, aparentemente falecido em 1908, lhes aparecera, esta semana, à porta de casa, envelhecido e barbudo, mas sorridente e cheio de vida, ostentando numa das mãos uma carta proveniente de Lisboa.
De qualquer modo, estou pronto para tudo.
Alexandre

 

Sugestão aos cavaleiros do asfalto

Não percebo o que faz, durante um ano inteiro a malta do Motoclube de Faro. O mês passado, foi a concentração motard - e agora? Daqui para a frente, tipo, nos próximos 11 meses, o que é que se faz?
Se estivesse no lugar deles, organizava concentrações de mais coisas: Agosto, era de vespas; Setembro, de distribuidores da Telepizza. Mas os cavaleiros do asfalto não se resumem às duas rodas; são todos aqueles que percorrem, solitários, esse lindo Portugal. Portanto, a seguir, viriam os encontros dos taxistas, cobradores de impostos, vendedores de apólices de seguro, carteiros, padeiros, ardinas, agentes da EMEL e vendedores de enciclopédias. E, para fechar com chave de ouro doze meses de actividade, uma grandiosa concentração de testemunhas de Jeová.
Só não sei se Faro aguentaria tanta malta da pesada.
Alexandre

sábado, agosto 14, 2004

 

Isto não é uma lista

Sobre Margarida Rebelo Pinto não tenho, nem nunca terei, provavelmente, grande opinião. Chateia-me um pouco que seja sempre o primeiro nome a sair quando se quer falar de má literatura ou da dita “light”. E o problema é que me parece que quem o diz nunca a deve ter lido, tal como eu nunca a li, porque não faria sentido. Quem a compra e quem a lê são aqueles vastos milhares que a adoram.
Posso afirmar, dentro das certezas possíveis com que fazemos todas as nossas declarações definitivas, que nunca lerei um livro dela. Não porque não goste dela, não porque goste, simplesmente porque há milhões de livros no mundo e muitos milhares deles são fundamentais e o nosso tempo de vida não nos permite ler, sequer, um centésimo desse essencial, pelo que jurei a mim mesmo não perder esse precioso tempo contado a ler qualquer coisa que corra o sério risco de não ser fundamental ou mesmo de ser mau.
De Rebelo Pinto, li, durante uns dois anos, as crónicas que publicava aqui e ali e, honestamente, não as achei más. Tinham a inteligência e o sentido de humor que reconheci na pessoa que encontrei, circunstancialmente, duas ou três vezes. O que me começou a chatear mesmo nela e que, de resto, fez com que até as crónicas deixasse de ler, foi a mania de fazer SEMPRE a porcaria das listas de 10 coisas.
Agora, já não sei se ela é autora de romances ou de crónicas; ela é autora de listas, ela escreve listas e listas e listas de 10 coisas a fazer e 10 coisas a não fazer. Qualquer dia, a mulher faz listas de 10 coisas de que se podem fazer listas e listas de 10 coisas de que não se podem fazer listas.
Não há coincidências? Não há é cu!
Alexandre

 

Às voltas

A Volta a Portugal, cuja edição deste ano terminou há dias, está cada vez mais estranha. Já não passa no Alentejo nem no Algarve, nem em Lisboa propriamente dita; dá pulos de quilómetros entre etapas; fica dias a andar à volta da Serra da Estrela e arredores; termina quando ainda mal tinha começado.
Para o ano, proponho uma etapa nas ilhas Cayman, que até poderia ser a final, em vez da Oeiras-Sintra deste ano.
No Sábado, após a chegada a Alcobaça, os ciclistas seriam transportados ao Aeroporto da Portela onde, depois de efectuarem uma pequena etapa com os seus carrinhos da bagagem, apanhariam um voo com destino ao Rio de Janeiro e, daí, para a Grand Cayman. Lá, já no domingo, no final de um contra-relógio individual, ao invés das tradicionais meninas giras, o vencedor deveria ser devidamente osculado, por exemplo, por João Vale e Azevedo e mulher.
O paraíso fiscal seria um lugar que sempre diria mais qualquer coisa aos portugueses e, provavelmente, até deve ser mais barato do que Sintra.
Alexandre

sexta-feira, agosto 13, 2004

 

menino Vasco: 19 valores

Vasco Pulido Valente leu o texto de Jorge Sampaio sobre os Jogos Olímpicos e deu-lhe um 11. Eu cá dou 19 a Pulido Valente por ter sido a primeira pessoa a lê-lo até ao fim. Nuno

 

DDR esplanar


[Michelle Pfeiffer, Scarface, 1983]

«So you wanna dance, Frank, or do you wanna sit here and have a heart attack?»
Rui

 

Teoria da relatividade

Na quarta-feira, quem abria o País Relativo deparava-se com uma pergunta interessante, certamente deixada pelo google: «O que é a teoria da relatividade?». A primeira vez que ouvi falar da teoria da relatividade foi na segunda classe. A professora estava no quadro a explicar as famosas «contas de dividir». «É simples», disse ela, em tom de desafio. A sala de aula ficou em silêncio. Como sempre, teve de ser o meu amigo Pedro Estêvão a quebrar o gelo: «Sim, sim. É simples como a teoria da relatividade». Filipe

quinta-feira, agosto 12, 2004

 

«Há coisas que já não estou disposta a aceitar. Eu já não tenho vinte anos»

Ao ouvir isto, comecei a prestar atenção. Eram duas raparigas a almoçar na mesa ao lado. A que já não tem vinte anos já não tem, de facto, vinte anos. Tinha o cabelo apanhado atrás, sardas e fumava maravilhosamente, como num filme. Braço direito no ar, cotovelo apoiado no braço da cadeira; braço esquerdo cruzado sobre a cintura, mão esquerda a tocar no cotovelo direito. O fumo a elevar-se no ar continuando a linha vertical do braço. Perfeito. Foi a primeira e, infelizmente, a última coisa que lhe ouvi. Isto porque a amiga, a que estava do meu lado, não deixou.
«Ai o pôr-do-sol, é pá, era mesmo lindo», disse a amiga. Calou-se e ao fim de dois minutos repetiu a mesma frase, palavra por palavra. A outra fumava e olhava, fumava e olhava. «Temos que ligar à Daniela, que ela merece imenso». E telefonou logo. Falava muito alto e dizia tudo de uma forma demasiado expressiva, dramática mesmo. Comecei, por isso, a olhar para o corpo dela à procura de indícios; para o corpo não, para a postura. «Ai, o pôr-do-sol, emocionei-me, e desatei a chorar»: e repetia isto incessantemente. Muito direita, inclinada para a frente, veemente. O corpo, de ginásio e praia, estava afinado e retesado por uma compulsão qualquer. «Bem, tinha tantas saudades tuas, é que tinha mesmo» e repetia também isto, alternando com o pôr-do-sol. A outra continuava calada, a fumar. «Olha, sabes, sinto-me bem, sinto-me mesmo bem. O pôr-do-sol, era lindo lindo. Estou tão feliz...olha vou ligar à Teresa que ela merece imenso.» A outra apagou o cigarro, olhou de soslaio para o relógio e virou-se para pedir a conta, mostrando-me finalmente o nó em que prendia o cabelo. Rui

 

DDR esplanar

Rui

 

Que farei com este post?

De um artigo da Lire, algures em 1998, retirei grande parte dos conselhos que tomei por mandamentos para o jovem escritor. Apontamentos de Hemingway, de Wittgenstein, de Highsmith. De entre eles, retive, sobretudo, aqueles em que mais sabia pecar. A necessidade de uma regularidade, de um horário, de uma persistência na escrita, mesmo cansado, sem vontade, a dita inspiração, o que quer que fosse para dizer. O verdadeiro escritor, não aquele que o deseja ser, mas o que assim nasceu, até poderia nem escrever sempre, mas lembrar-se-ia, todos os dias, da sua essência.
Agora, tentei transferi-lo para o cumprimento do blogger.
Nem sempre é fácil, como hoje. Nem sempre o relógio, o corpo e o sono me deixam postar. Mas postarei, sem muito a contar, mas tendo presente que há sempre muitos e bons leitores para aquilo que fica por dizer.
Alexandre

 

Toda a verdade sobre cães, gatos e os seus amantes

Esta pequena conversa, paradigma daquilo a que chamamos esplanar, terminou com esta análise perfeita do Puto Paradoxo a quem, de resto, aproveito para, finalmente, fazer o link e enviar um grande abraço.
E até sexta!
Alexandre

 

sorriso demasiado sorridente



Existe uma altura do dia em que nos cruzamos na estação do Marquês. Ele sorri para vender a revista “Cais”. Estou a ser impreciso: ele sorri um sorriso demasiado sorridente para vender a revista “Cais”. A semana passada, vi-o “fora do horário de expediente”. Não era um vendedor de revistas tristemente servil. Não olhava para mim com aquele sorriso que dá pena. Era um homem dentro de uma carruagem. Tinha uma mochila às costas e falava com uma rapariga sobre coisas que não ouvi. Percebi-o então: afinal há ali um ser humano. Nuno

quarta-feira, agosto 11, 2004

 

Simpatia sem manha

Estávamos a meio do jantar e faltou o tabaco. Eu vou – tu vais – fui eu. Saí do restaurante e atravessei a rua, dirigindo-me a um grupo de dois ou três rapazes à conversa em frente a uma lojinha que vende bugigangas e copos de água. «Onde é que posso comprar cigarros aqui ao pé?» «Na porta ao lado.» A porta ao lado, um outro restaurante, não tinha: só tinham charutos e vinhos tintos italianos. Voltei a ter com o grupo que, entretanto, me havia seguido com o olhar. Sentia-me, e parecia, o mais cámone possível. A trilogia que não engana: shorts, chinelo e after-sun. Um estereótipo ambulatório. Se haveria algum outro sítio ali ao pé onde se pudessem comprar cigarros. Não. Não, àquela hora. Coço a cabeça. «Dá-me o dinheiro que vou lá eu comprar», diz um deles, sentado numa motorizada. Fico embatucado. Pensei: dou-lhe o dinheiro e o tipo nunca mais aqui aparece. Nem sequer era o ser muito dinheiro, era o não ser comido por parvo. Não queria ser mal-educado, mas fui: «E voltas com o tabaco?» Risos dele. «Malditos estereótipos», pensei. Lembrei-me de dizer, já a ficar engelhado com o ridículo: «é que só tenho notas grandes, deixa estar, eu cá me arranjo...» «Salta para a motorizada e vamos lá os dois comprar o tabaco» disse ele, a ler fundo nas minhas reticências. E lá fomos, à conversa. É longe? Não, era ali ao pé. Rui Costa? Conhecia; grande fã. Somos do mesmo bairro em Lisboa, disse orgulhoso. Risos. O campeonato europeu? Grande merda: tinha perdido dinheiro numa aposta da final. «Big money»: cinquenta dólares, mais de um mês de salário como empregado de mesa. Chegámos ao sítio, comprei dois maços e regressámos. Parou em frente ao restaurante. «Obrigado» e apresentações de parte a parte, com um sorriso aberto. Um aperto de mão. Bali.
Rui

 

O menino da central

Hoje, sem que pensasse no que estava a fazer, parei diante da velha central hidroeléctrica onde o meu falecido avô trabalhou anos a fio. Ali, passei incontáveis manhãs e tardes da infância, entre grandes máquinas cujos funcionamento e função não compreendia, papéis em que rabiscava figuras para passar o tempo e senhores já velhotes que, por isso, me chamavam "o desenhista". De súbito, todas estas imagens perdidas, este período por inteiro, passou-me, de novo, pelos olhos.
De repente, voltou aquela sensação de nunca ter crescido, de apenas ter fugido aonde se pertence, ao nosso lugar no universo. E pensei que continuo a olhar para máquinas que não entendo e a desenhar coisas em papéis que se esforçam por ter um sentido que os outros deslindem.
Porque é que, tantas vezes, nos parece que a parte verdadeira de nós é a que ainda é criança e que todo o processo de crescimento não passou de uma ilusão?
Alexandre

 

O distante e o difícil

A Sofia escreveu-me hoje este texto delicioso, entre o ternurento e o erótico, que muito lhe agradeço.
Desculpa-me se, desta vez, não concordas comigo, mas acredita que é a pura verdade. Reconheço que tens razão naquela ideia dos peixes - nunca tinha pensado nisso - mas os gatos têm sobre eles e todos os outros uma irresistível indolência.
E, de facto, ter um gato deve ser a coisa mais parecida com não ter sequer um animal de estimação, mas também sempre me atraíram mais aquelas pessoas que quase parecem não estar lá, as ruas e os cafés por que não damos, os intervenientes silenciosos das discussões, enfim, todas as presenças descobertas devagar.
Só aquilo que é distante nos faz correr, não é? Mesmo que nunca cheguemos lá...
Alexandre

 

DDR esplanar

Rui

terça-feira, agosto 10, 2004

 

Elogio do colonialismo

Em Bali, convenci-me que todos nós temos uma vocação colonial e que os colonialistas «were on to something». Mas não a torna-viagem, não o dá cá o dinheiro, não a volta para a terrinha. Não: ficar lá mesmo. Afinal, voltar para que efeito? Lembro-me sempre que Portugal teve um rei que foi para o Brasil por causa das invasões francesas e que depois não queria voltar. Preferiu a corte no Rio, preferiu casar a filha com o irmão, preferiu tudo a voltar ao europeu torrão pátrio. Fala-se muito de D. Pedro como o «imorredoiro dador da Carta». Pois eu cá vejo nele o tipo visionário que foi para o Brasil e queria era ficar por lá. Pudera. Bem o percebo. Eu faria exactamente o mesmo. Rui

 

Férias

À partida para Bali pensava que iria escrever bastante; pensei que a escrita iria, na expressão errada que então usei, «jorrar». Ia no avião, e a disposição mantinha-se. Tinha ideias, fazia piadas, pedia bebidas. Para ajudar a sobrevoar a China, escrevi quatro pequenos posts nas páginas de comentários de um livro de Rui Ramos que tinha levado para ler na viagem (um dos melhores usos que se poderão dar ao dito livro). Levei um bloco e comprei outro no avião. Estava preparado. Ao chegar, tudo parou. Chamem-lhe indolência, chamem-lhe a difícil digestão de uma cultura gastronómica nova, chamem-lhe o respeito que Deus ganhou pela mulher depois de fazê-la (ou seja, o deslumbramento por algo novo e diferente) - chamem-lhe o que quiserem. Entre bocejos e massagens, eu tinha era sono. Tinha um cansaço bom insuperável. Uma distenção colonial. Rui

 

it's raining cats and dogs

Dou por mim, a estas bonitas horas, deliciado a ver, no Canal Panda, um episódio velhinho do Garfield.
O Garfield, na sua relação com o Odie, relembrou-me como sempre preferi os gatos aos cães. Os gatos são elegantes, independentes, silenciosos; os cães barulhentos, tontos e excessivamente fiéis. Do meu ponto de vista, quem gosta mais de cães, precisa de companhia, tem inseguranças, quer um amigo incondicional, alguém que goste de si não importa que defeitos. Já o gostar de gatos parece-me mais interessante, porque eles nos deixam quando querem, são difíceis de conquistar e tudo o que fazem, mesmo as asneiras, fazem-no com classe.
O problema é que dou por mim (ando a "dar muito por mim" para um post só...), com o passar do tempo, a achar que os cães até não são tão maus quanto isso. E que, se calhar, até era porreiro ter um. E que os gatos, às tantas, até são uns ingratos.
Estarei a ficar velho?
Alexandre

 

Casa cheia

Descansem. Não vou escrever nenhum post sobre uma obscura nostalgia desse concurso da RTP que teve tão inesquecíveis apresentadores como Fernando Pereira e Carlos Ribeiro. Queria apenas partilhar convosco a minha alegria por esta esplanada ter, de novo, os seus clientes em plena actividade. Um especial "welcome back" ao Rui.
Alexandre

 

Dúvidas

Crescem-me as dúvidas nestes dias tecnológicos. Será que algum dia haverá um editor interessado em editar os SMS’s trocados entre dois intelectuais? E a troca de mensagens amorosas entre um escritor e a sua amada (espécie de "SMS’s de Fernando Pessoa para Ophélia")? Aguardemos. Nuno

 

No fundo, eles amam-se

Os meus vizinhos, que se odeiam, continuam a manter, intactas e militantes, as bandeiras de Portugal. Nuno

segunda-feira, agosto 09, 2004

 

DDR esplanar

Rui

 

ET

Este fim de semana confirmei que para a geração dos nossos pais a pergunta mais importante continua a ser: «onde estavas no 25 de Abril». Mas para nós, a chamada «geração de 70», a questão mais marcante é sem dúvida: «com quem estavas quando viste o ET pela primeira vez?».
Filipe

 

Glasgow

Os Franz Ferdinand são mais uma grande banda de Glasgow. Quem conhece a cidade sabe que dali só podem vir grandes bandas ou suicídios.
Filipe

 

Casa Portuguesa

Hoje, quando uma amiga me disse que vai regressar a Goa em Novembro, voltei a entrar no restaurante Casa Portuguesa, em Baga. Comecei por ouvir um fado vindo de uma gravação pouco clara e deficiente. Revisitei depois os quartos daquela que podia ser uma antiga casa de campo portuguesa e recebi de novo o calor triste das velas acesas em cima de cada uma das mesas, alumiando as paredes brancas e o mobiliário indo-português. Por fim, voltei a ter uma demorada conversa com Francisco de Sousa, o dono do restaurante. Vestido de negro e com o cabelo todo puxado para trás num carrapito, contou-me histórias da altura em que foi estudar para Bombaim e, ao sentar-se à mesa com os seus colegas do curso de Direito, sentiu o choque cultural por trazer de casa uma série de hábitos portugueses/goeses. Lembrou o som das metralhadoras das tropas indianas no dia da libertação e a voz da sua avó a dizer: "É a guerra, é a guerra". E recordou o ano de 1986, altura em que resolveu transformar uma habitação ancestral, escondida entre a vegetação selvagem e os trilhos das cobras, num restaurante que preservasse a memória da família. Hoje, quando uma amiga me disse que vai regressar a Goa em Novembro, imaginei que o prato de peixe com açorda que tinha à frente era, afinal, um xacuti de galinha. E ouvi, ao fundo, o som de uma gravação roufenha dos fados de Amália. Nuno

domingo, agosto 08, 2004

 

Silly season?

Depois de um dia inteiro passado num churrasco numa casinha restaurada no interior da ilha, com tourada na rua e, dentro do jardim, dois poetas, três repórteres fotográficos, um jornalista e romancista e mais uma quantidade interminável de gente capaz de gerar uma conversa interessante a partir da observação do primeiro objecto onde os seus olhos repousem, agradeço aos céus a invenção da verão.
Alexandre

sábado, agosto 07, 2004

 

Ainda a propósito do site meter...

Segundo um estudo recente de uns tipos quaisquer, "portugueses" era, surpreendentemente, a palavra mais pesquisada no Google.
Sim. Não era "free porn" nem "gang bang" nem "Jenna Jameson" nem "a priori kantiano" nem "monocultura do pinguim-com-complexo-de-culpa-após-mostrar-se-completamente-frio-perante-a-confissão-de-gravidez-da-esposa."
Que estranho!
Por mim, prometo nunca usar estas palavras como truque para conseguir melhores números de visitas no site meter. Aliás, seria incoerente ver, numa esplanada, a Jenna Jameson ou um gang bang free porn. Ou qualquer coisa parecido, tipo a Briana Banks ou a Tera Patrick, pinguins ressabiados ou estruturas morais descritas pelo Kant.
Sobre portugueses poderia sempre escrever, é claro. Mas estamos de férias e eu não gosto de falar de coisas que dêem trabalho.
Alexandre

 

God only dances...

Deixem-me partilhar convosco, brevemente, o melhor tema da melhor banda que, alguma vez, acompanhou o verão. Como não sei fazer links ao media player, imploro a todos aqueles que se recordem, que cantarolem o tema para si...

"God Only Knows" (Brian Wilson / Tony Asher)

I may not always love you
But long as there are stars above you
You never need to doubt it
I'll make you so sure about it
God only knows what I'd be without you

If you should ever leave me
Though life would still go on believe me
The world could show nothing to me
So what good would living do me
God only knows what I'd be without you
God only knows what I'd be without you
God only knows what I'd be without you

Alexandre

 

Usos da blogosfera III

Já passou um dia, mas estendo a utilidade da blogosfera a mais um pouco da vida real, prática, sensitiva... Um grande abraço ao meu irmão que fez, ontem, anos e a quem, há 3 verões não consigo dar prendas nem dizer o que quer que seja pessoalmente, por acontecer estarmos sempre em lugares diferentes.
Um grande abraço e que aceites esta prenda virtual como mais verdadeira que a realidade de quem está presente.
Alexandre

 

Vozes e ecos

Malgrado estar a sentar-me um pouco solitário nesta esplanada, devo, hoje, envaidecer-me com algo de que, certamente, muitos me censurarão: subimos os níveis de audiometria!
Porque os blogs têm destas coisas, uma certa escravatura do site meter a que, pessoalmente - confesso -, não resisto. E porque, enfim, é sempre bom saber que a nossa voz ecoa em qualquer parte, mesmo nas areias onde repousam a maior parte dos corpos neste e em todos os outros verões. Longe, muito longe de qualquer PC (em linguagem informática, obviamente...).
Muito obrigado a todos os que esplanam connosco, do Brasil a Lisboa, passando pelas ilhas, e algum croata que se engane a teclar o termo que procura. Agradecimentos extensíveis, sobretudo, a todos aqueles que nos hiperligaram (esta é para ti) e saudaram neste bom regresso à blogosfera que cumpre, mais ou menos, um mês.
Alexandre

sexta-feira, agosto 06, 2004

 

'tava a ver que não...

Há mais um "casadoiro" de regresso à acção. O Luís, que é quase tão bom amigo como guionista - ou quase tão bom guionista como amigo?... Bom, é indiferente, porque ele é tão bom numa coisa como noutra - inaugurou, há dias, o Irmã Lúcia.
É ir lá depressa, pessoal! O terceiro segredo pode ser desvendado a qualquer momento...
Alexandre

 

Usos da blogosfera II

Se os outros me podem olhar a partir deste monitor, então, quero vingança!! Também vou olhar os outros... Sim, Bárbara - isto é para ti! Ou pensavas que podias estar aí, sentadita em casa, a salvo de qualquer investida minha? Isso é que era bom...
E aproveito para saudar todos esses amigos que me lêem e que, sobretudo, nos lêem e acompanham e comentam, esplanando connosco nestes dias quentes.
E termino olhando para S., entrada recente no Top do meu universo pessoal, que também tem vindo, em silêncio, a espreitar o que por aqui se conversa. Espero que estejas bem e que os habitantes de Lisboa-em-Agosto não te estejam a dar muito trabalho. E, já agora, que o teu computador tenha sobrevivido àquele pequeno incêndio para que me possas ver, agora, vendo-te, e testar também este uso da blogosfera.
Um grande abraço a todos!
Alexandre

 

Usos da blogosfera I

Ultimamente, à medida que encontro os amigos que também estão de férias por aqui, tenho esbarrado em invulgares dificuldades para estabalecer uma conversa.
Explico.
Começo a tecer uma opinião sobre qualquer coisa, o estar de regresso, o ano que passou, a situação política e sou confrontado com um: "Eu sei. Escreveste isso no blog." Perplexidade. Tento mudar de assunto. "Olha! Já não estou a trabalhar na..." "Sim, eu li." "Ah! Sim. Agora, vou para..." "Aquele jornal, pois. Esse post 'tava muita giro!" "Hum... Pooiiiiissss. E ao cinema, tens ido? Fui ver um filme muita bom! 'A..." "Minha Vida Sem Mim', não é?"
Aaaaaaaarrgggghhhhh!!!!!!
A minha vida social está arruinada, mas, em compensação, poupo um dinheirão em telemóvel, tempo dispendido a escrever cartas e mails, horas a tentar pôr os outros a par de tudo.
Agora, das duas uma: ou me habituo a isto ou passo a escrever só sobre Linguística e Pós-estruturalismo.
Vou reflectir.
Alexandre

 

Sobre como falhei a vida

Em conversa com um amigo, neste final de tarde, cheguei à conclusão de que falhei a vida.
Todos os outros miúdos sonharam ser pilotos-aviadores e astronautas, futebolistas e detectives. Eu não.
Andava ele em obras na sua casa de infância, já nos retoques finais, pintando os muros em torno, e recordei-me de como, em pequeno, a primeira profissão que sonhei fora, precisamente, a de pintor. Dizia-o entre a família e achavam-me graça. "Que giro! Tão pequenino e já quer ser artista..." E eu: "Não, não! Quero ser pintor! Pintor, mesmo - de casas e paredes e assim!"
Depois, projectei, quando crescesse, ser taxista . Não tínhamos carro, pelo que só era transportado nesse maravilhoso invento quando acompanhava a minha mãe, cheia de sacos, regressando a casa, findas as compras do mês. Achava extraordinária a sorte daqueles motoristas, que podiam passar dias inteiros, a vida inteira, a andar de automóvel.
Isto durou-me quase até ao final do ciclo preparatório, fase em que comecei a ter segundos pensamentos sobre se estes seriam bons projectos de vida, sobretudo naquela idade em que tudo é, ainda, possível.
Hoje, faço um balanço e concluo: nunca pintei uma só parede que fosse, nem na casa de amigos. Tenho carta, mas nem um carrito em 12ª mão, pelo que, tirando ocasiões excepcionais, nem conduzo.
Se, do alto dos meus 10 anos, pudesse contemplar-me agora, como futuro de mim próprio, pensaria: "Acabei um falhado!"
Alexandre

quinta-feira, agosto 05, 2004

 

Por uma vez, o X não marca o sítio...

Por incrível que pareça, só hoje fiz a experiência de pesquisa a palavra "esplanar" no Google.
Surpresa: aparecem 994 entradas, encimadas por uma sugestiva ideia do motor de pesquisa: "Será que quis dizer explanar?"
Daquelas 994, uma somos nós e algumas outras referências aqui à malta. O resto, sim, o resto, isto é, umas 900 páginas são - isso mesmo - um bonito erro ortográfico.
E eu a pensar que, com um nome destes, ninguém cá viria ter por acaso...
Alexandre

 

Photomaton

A morte de Henri Cartier-Bresson fez-me recordar a penumbra em que parecem recair os nomes de todos os grandes caçadores e, não poucas vezes, inventores de imagens, sejam eles fotógrafos ou operadores de câmara.
Até parece estranho que, cumprido o século da imagem, a praça pública não tenha retido, pelo nome próprio, quase nenhum destes indivíduos que fizeram e fazem de nós, dia após dia, a geração que mais mundo viu. Porque não estão eles ainda no mesmo panteão dos escritores e mesmo dos jornalistas do texto, dos pintores ou, pelo menos, dos pivots de noticiários?
Nós aprendemos a reter os rostos e, só depois, a colocar-lhe um nome em legenda. E, ironicamente, estes homens e mulheres vivem ocultando a sua face, em nome de nos providenciar a dos outros. Nenhum de nós esteve no Vietname ou em Pequim, no Iraque ou na Somália. Não arrancámos um pedaço ao Muro de Berlim ou avistámos, ao longe, o cogumelo gigante de Hiroshima. Mas aprendemos todas estes acontecimentos, interligámo-los e compreendemos o mundo em que vivemos graças a eles. Na frente de batalha, ao lado dos feridos, rente aos disparos, nas cidades sitiadas onde nehum estrangeiro seria bem-vindo.
Da próxima vez que comprar a National Geographic ou visitar a World Press Photo, em que levar consigo um jornal pela sua primeira página magnética ou saltar da poltrona com o que está a ver no seu televisor, mergulhe mais fundo e não se fique pelo que lhe é mostrado. Pense no que foi preciso para que você pudesse estar, tranquila e confortavelmente, em casa, a contemplar a beleza e o horror do tempo em que vive.
Alexandre

quarta-feira, agosto 04, 2004

 

Insultos

Anda tudo muito indignado com o clima de insultos que está a dominar a campanha interna do PS. Coloquem-se, por uns momentos, na situação em que se encontram os dirigentes do PS. Imaginem que, em Julho, o vosso chefe se tinha demitido, e que, por essa razão, teriam de passar todo o mês de Agosto a aturar os vossos colegas de trabalho. O que é que vos apetecia fazer? «Debater ideias»? Filipe

 

Na América como em Portugal

Também eu fui ver o último filme do Michael Moore, o Fahrenheit 9/11. Gostei particularmente daquela cena pré-9/11 em que o presidente Bush (de férias, como em 44 por cento dos dias) fazia o elogio do e-government e da deslocalização do governo: «Qual é a diferença entre estar no Texas ou na Casa Branca? Hoje em dia, com os telefones, os faxes, é tudo mais próximo». Em seguida, a jornalista questionou-o sobre as medidas do governo: «Temos aí muitas medidas em preparação, por exemplo... aaaa...» Ficou, literalmente, aos papéis. Como diriam os americanos, «it sounds familiar». Filipe

 

A vida ao sol

Nem tinha pensado no assunto, quer quando formámos o blog, quer quando cheguei à ilha, mas a minha cidade, Angra do Heroísmo, é a verdadeira capital europeia das esplanadas. Este verão, tenho pulado de uma para outra e até já lhes atribuí actividades específicas (uma espécie de descentralização dos ministérios, mas muito mais divertida). Numas escrevo, noutras leio, noutras bebo copos e converso, noutras ainda aprecio, simplesmente, a vista. A umas, vou à noite, a outras, apenas de dia.
Aquele que parece ser um excelente trabalho do presidente da câmara, Sérgio Ávila, ganha, aqui, a sua visibilidade - a questão da aparência de virtude da mulher de César, virtuosa já na essência. A cidade está inundada de vida, pelas ruas e pelas praças, de manhã cedo até madrugada. Aqui ficam algumas das eleitas:
A esplanada do Centro Cultural, dirigida para o Monte Brasil e o Castelo de S. João Baptista - trabalho no romance.
A do Hotel do Caracol, sobre a zona balnear da Silveira - leio Mailer.
Marina - copos, diálogos e "vistas"...
Restaurante Casa da Roda - "A" vista: a cidade, a marina, o mar, o monte e o castelo. Já agora, com o jantarinho à frente...
A Central, diante do Jardim Público - para a algazarra.
A do pátio de minha casa - para o silêncio dos entardeceres.
Assim, esplanar tornou-se, subitamente, o grande desporto deste verão. Acho que vou trazer a medalha...

Alexandre


 

Há que tempos que não recebia correio...

O Fernando Madeira teve a amabilidade de me enviar um e-mail acerca do post que escrevera ontem, "Super-heróis", corrigindo alguns erros - o que muito agradeço -, mas confundindo algumas coisas que, mea culpa, talvez não tenham ficado claras. Aqui, o que começara por me parecer uma epístola atenciosa, culmina numa agressividade que não percebo, mas com a qual também não me vou preocupar muito.
De qualquer maneira, vamos lá às correcções e esclarecimentos.
O Maradona não foi suspenso no Mundial de 96 porque, evidentemente, nesse ano não houve Mundial nenhum, mas sim o Europeu de Inglaterra. Portanto, o homem sofreu o castigo dois anos antes, nos Estados Unidos, pouco tempo depois de ter feito um golaço à Grécia no tempo em que os helénicos ainda levavam de 4 para cima.
Depois, ao que me conta o Fernando, Armstrong já fez para aí meia-dúzia ou mais de gestos semelhantes àquele que tanto me encantou em Miguel Indurain.
Pela primeira (gralha), peço desculpa. Pela segunda (erro), também peço, mas não muito, dado que só mostra aquilo que afirma o post: que deixei de ver ciclismo desde que Indurain o abandonou.
De resto, o Fernando acaba a dizer que o desporto não precisa de adeptos como eu e que, portanto, não se perdeu nada em ter ido cantar para outra freguesia e que confundo o essencial com o acessório - to make a long story short.
Caro Fernando, é exactamente disso que eu estava a falar. De que, no desporto, gosto é dos primeiros amores, não da exploração dos limites do físico humano. Da paixão, não dos recordes. Da afeição irracional que depositamos numa das equipas e não nas regras do jogo. Por exemplo: porque é que o Portugal-Inglaterra foi tão especial? Porque Postiga, Rui Costa e Ricardo exibiram, muito mais que o seu talento desportivo, a sua humanidade - coragem, orgulho, vingança e medo.
Espero que todas as modalidades evoluam sempre e tenham nas bancadas entusiastas como você, os que estão na primeira linha. A mim, interessa-me escrever sobre afectos.
Alexandre

 

país de esplanadas



"Não achas que a esplanada é uma pequena pátria
a que somos fiéis? Sentamo-nos aqui como quem nasce".
Ruy Belo, "Ácidos e óxidos"

 

jornalismo



O jornalismo tem uma parte muito chata – as entrevistas à última hora por telefone; a angustiante obrigação de andar atrás de personalidades que nos despacham em dois minutos; a tarefa de desgravar entrevistas que parecem não ter fim. Mas o jornalismo - o jornalismo das histórias e das pessoas – enriquece sempre, sob o ponto de vista humano, quem o faz. Uma grande reportagem, uma entrevista de fundo ficam para a vida. Nunca nos esquecemos delas. Servem-nos de ensinamento sobre a condição humana. E, neste regresso aos jornais, sempre que me sento em frente ao computador, sentam-se comigo todos aqueles – a equipa de cuidados paliativos de Odivelas e os homicidas passionais em Vale de Judeus, por exemplo - que fizeram parte do meu passado de free lance. Nuno

 

um stage diving?

Os portugueses gostam de palminhas. Nos programas televisivos da manhã, nas festas da IURD, nas aterragens. Agora, com “Fahrenheit 9/11”, os portugueses fazem o favor de lembrar que também gostam de palminhas no cinema. Permitam-me, no entanto, a pergunta: se batemos palmas numa obra de Michael Moore, o que faremos quando virmos um filme de Clint Eastwood? Nuno



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